segunda-feira, 2 de maio de 2016

A Pessoa já está Perdida (por Sonia Menezes)



O que as pessoas têm muita resistência em aceitar é que quando amamos alguém, devemos saber, de antemão, que essa pessoa já está perdida para nós... De uma forma ou de outra... Mais tempo ou menos tempo... Nem que seja pela morte... Então, porque desejar aprisionar o outro num lugar em que ele não poderá permanecer?

Pior: porque se aprisionar numa ilusão fatal, em vez de permitir que a vida flua em vida?



O Amor liberta. Amar liberta.


E será que precisamos, mesmo, algemar as pessoas que amamos?
Será que a pessoa que amamos nos amará mais ou melhor, se estiver amarrada?
Se quiser ver um outro alguém , mas for obrigada a estar conosco? 
Se tiver que fingir pra si próprio que está feliz ali, embora seu desejo esteja indo noutra direção??

Quando aprenderemos a respeitar com profundidade?


sexta-feira, 29 de abril de 2016

Relacionamentos têm prazo de validade? (texto em construção por Sonia Menezes)

Relacionamentos têm prazo de validade? 



Enquanto as pessoas, de alguma forma, estão aprendendo algo sob a presença do outro, esse outro permanece. Muitas vezes, um relacionamento traz, recorrentemente, situações penosas, de desprazer, penúria ou desgaste – ainda assim, entende-se que, dessas experiências dolorosas, possam surgir aberturas para a mudança que libertaria o sujeito de seu sofrimento, de forma que o ciclo se encerre produtivamente.

Ao repetir as experiências de dor nos relacionamentos, o sujeito tem a prerrogativa de atentar para elas e refletir sobre o que precisaria ser modificado, para alterar o status quo indesejado.


Surge a questão de se empossar de sua vida, o confronto com a possibilidade de tomar decisões e responsabilidade sobre si.

Pessoas não gostam de lidar com uma afirmação como essa... parece por demais doloroso ter o fim como algo certo.



De alguma forma, quando perdemos a esperança de "ter a pessoa" pra sempre, é quando podemos nos abrir para receber o melhor que nosso encontro com ela pode oferecer... 

A percepção da transitoriedade pode nos colocar num processo de apreciação profunda, do outro, da presença do outro, em dado momento, em nossa vida. No fundo, é porque já entendemos que em algum momento, esse outro não estará mais presente... 




quinta-feira, 28 de abril de 2016

Poliamor, Amor Livre, e outros (texto em construção - por Sonia Menezes)




Dentre as várias modalidades de relacionamento não-monogâmico que operam, hoje, em nossa sociedade, algumas se destacam por seu grande número de adeptos, muitas vezes, de forma organizada. 

Grupos e comunidades nas redes sociais trocam informações, experiências e se organizam para encontros de convivência, e estudos sobre seus estilos de vida. 
Compartilham suas ideias, seus anseios e temores, experiências boas e desagradáveis, e não raro, focalizam a conscientização feminista, num trabalho ativamente político.

Ora, se o que se busca é o máximo respeito, e assim é dito, como poderia ser aceito que a liberdade de se amar fosse restringida a amar uma única pessoa?


Ainda sendo o poliamor uma forma alternativa bastante em voga, há sobre ele uma crítica severa quanto ao seu modus operandi, pois supõe-se aqui um casal principal, que aceita que outras pessoas participem de sua relação. 

Parece bastante comum que um casal formado por um homem e uma mulher aceitem uma terceira pessoa. A crítica acontece na medida em que há maior incidência de que a terceira pessoa seja outra mulher, e dessa forma, supõe-se que haveria uma reprodução da cultura machista, onde a um homem se confere o direito de ter mais de uma mulher, e escamoteando seu privilégio, ele estaria desfrutando de uma prerrogativa do modelo alternativo, apenas para reafirmar padrões subliminares de superioridade. 

Não é sempre assim, no poliamor, há toda a diversidade de trios, mas algo não muda: há um casal principal e os parceiros devem ser fiéis entre si, de modo que qualquer terceira pessoa precisa da aprovação dos dois.    


Sentir-se Amado (por Sonia Menezes)



Todos precisam ser a si mesmos e se sentir amados. 

Teme-se, desde a constituição do Eu, repetir a perda que é experimentada ao se perceber que a mãe não é sua continuação, e entende-se que há outros, além e a despeito de si, que merecerão o amor a atenção dela.

Quando acontece o apaixonamento, geralmente acontecem pequenos ajustes para que haja uma modulação favorável, na nova relação. 

Não se deve desprezar, entretanto, que haja uma ameaça subjacente, implícita: se o outro não gostar do que é feito, não haverá amor em retorno. 
A ideia de adaptação, de certa forma, arrasta uma outra, a da anulação de si, entretanto, não é possível que alguém se sinta profundamente amado, a menos que seja aceito e respeitado, pelo que é. 

Acontece, assim, um fenômeno de dupla possibilidade de perda: perde-se ao se conformar, perde-se ao se rebelar.
A única saída desse fenômeno perde-perde é a ação voluntariosa, que se resume em fazer algo por que isso fará diferença para si, porque há um importar-se verdadeiro para com o outro, e um desejo que impulsiona o sujeito a tal ação. Havendo medo, culpa ou obrigação, não se poderá furtar da experiência da anulação.

A ideia é que quando cessam as acusações, a preocupação com o outro pode começar. O afrouxamento das atitude auto-protetivas contra a perda do amor, como a submissão, o controle sobre o outro ou a indiferença permitiriam, então, e através do exercício da liberdade, que acontecesse a cumplicidade e a intimidade. 

A valorização da compreensão, fortalecida pelo respeito à liberdade do outro de ser quem ele é inicia um processo que prescinde da urgência em encontrar uma solução em resolver conflitos, e este passa a ser o campo mais enriquecedor da experiência amorosa. 

Tal processo pode deixar os casais mais íntimos e satisfeitos, e possíveis soluções podem deixar de ser a prioridade emergente, mas passam a ocupar um campo de possibilidades, num segundo plano, onde se pode raciocinar sem o medo da compreensão e da perda do amor.
Segundo Jordan e Margareth Paul, responder “Não” cria um espaço para o florescimento dos sentimentos de amor, acompanhados de apoio, aceitação mútua, diversão, sensualidade e sexo passional. Isso se daria pelo engajamento mútuo num processo que leva às liberdade e integridade individuais, e aumentaria a intimidade. Chamam de Relacionamento em Evolução, e os parceiros, nessa afinação, encorajariam o outro a se expressar e a se compreender profundamente. Segundo eles, esse tipo de relacionamento é raro e difícil de construir, porque os parceiros devem aceitar estar vulneráveis e aceitar riscos emocionais. Em seu livro “Terapia do Amor – Não Renuncie a si mesmo”, parafraseiam Carl Rogers, para ilustrar a atitude pessoal do sujeito, em tais circunstâncias:

“Talvez eu possa descobrir e aproximar-me mais daquilo que , realmente, sou lá no fundo – sentindo-me, às vezes, bravo ou aterrorizado, às vezes amável e atencioso, ocasionalmente belo e forte e selvagem e terrível – sem esconder esses sentimentos de mim mesmo. Talvez  eu possa vir a me apreciar como a pessoa ricamente variada que sou. Talvez eu possa, abertamente, ser mais dessa pessoa... Então, eu posso me deixar ser, com meu parceiro, toda essa complexidade de sentimentos e significados e valores – ser livre o suficiente para dar amor, a raiva e a ternura que existem em mim. Possivelmente, então, eu poderei ser um membro real de uma parceria, porque estou no caminho de me tornar uma pessoa real. E tenho esperanças de que posso encorajar meu parceiro a seguir seu próprio caminho, para uma personalidade única, a qual eu amaria compartilhar”.


Veganismo, Anarquia e Amor Libertário (por Sonia Menezes)



O Veganismo propaga a ética e o máximo respeito aos animais, humanos e não humanos. A exploração, de todo tipo, é abominada e combatida com ativismos de diversas naturezas, individual e coletivamente.

O respeito é a palavra-chave desse modo de vida, entendendo que o especismo tem a mesma genealogia do que todas as demais formas de opressão, a exemplo, o machismo, o racismo, o sexismo, o idadismo, o elitismo  e outras. 

São todas essas, manifestações de uma cultura de desvalorização da diferença, no sentido higienista, onde privilegiam-se as qualidades que bem servem à mentalidade capitalística, já hoje universalizada, em detrimento daquelas que não são alinhadas com o construído padrão burguês de alta produtividade, consumo e funcionamento da máquina sócio-econômica fundada naqueles moldes.

O animal não-humano não é visto como inferior, mas diferente, e possui direito à sua vida, com seu propósito em si. 

Nenhum tipo de utilização exploratória é bem visto, nem tampouco entende-se que algum animal pertença a algum humano, concebendo-se a tutela responsável, a mais aceitável modalidade de relacionamento, depois do relacionamento livre, onde animais e humanos conviveriam  sem qualquer vínculo, como na vida selvagem. 
Posse não é um conceito  participante de um sujeito vegano.

Depreende-se, pois, que relacionamentos entre os seres humanos, sob essa luz, devam ser respeitosos quanto à liberdade do outro: “ninguém é de ninguém” faz valer, aqui, seu sentido mais profundo.

Não é verdade afirmar que toas as pessoas que adotam o veganismo participam da visão libertária, quando se trata de seus relacionamentos, e isso está calcado na sua subjetividade capitalística, algo que exige forte senso crítico para ser desconstruído ou reelaborado.

Muitos veganos têm seu foco no animal não-humano, e para eles, é suficiente, o não consumo de produtos de origem animal, acompanhado de práticas como não tirar a vida de nenhum tipo de ser vivente, o resgate de animais em situação de risco e propagar a senciência animal.

Pode-se observar, outrossim, que há, entre os veganos, uma aceitação muito mais fluida e recorrente, das formas consideradas, pelo padrão cultural atual, alternativas, de relacionamentos afetivos. Juntamente com a luta contra o especismo, vem relativização das relações machistas, e a fragilização dos modelos monogâmicos como sendo os únicos saudáveis, livres de perversão; muito pelo contrário, há um olhar desconfiado para a considerada saúde do modelo, e uma propensão ao rompimento dos grilhões sociais, que geram tantos conflitos quanto aos limites aceitáveis de liberdade do outro, nas relações.

O Amor Libertário, dessa maneira, seria entendido como uma abertura de um espaço para a expressão desse afeto de alta qualidade, descolado da lógica controversa da normalização, que prevê a monogamia como única forma correta de vivenciar relacionamentos. 

É uma proposta de revolução interna, de libertação de denominações como imoralidade, infidelidade, perversidade, ou promiscuidade, a, ao mesmo tempo, em favor da expansão dos sentimentos de amor, independentemente do engajamento em relacionamentos de quaisquer naturezas.


O amar é uma expansão do sujeito amante. 
Os sentimentos de amor podem estar dirigidos a muitos objetos, e não há, a não ser pelos interditos sociais, limites naturais para determinar o número saudável ou correto de tais objetos.

Sobre a Segurança ( por Sonia Menezes)


Na vida não há garantias, entretanto para que planos e projetos venham a cabo, há que se fazer uma trajetória previamente programada, seguindo estratégias com passos pensados e com espaço pra mudanças no seu decorrer. 



Funciona muito bem para a maioria dos setores da vida humana, e assim parece que as pessoas pensam em fazer com que seus relacionamentos sejam bem sucedidos, cercando-se de garantias em perspectiva. 

Todo tipo de artimanhas é utilizado em prol de prolongar, ao máximo, os relacionamentos, e muitas vezes os processos protetivos acabam por se tornar controladores e opressores, sem se que pareçam errados, já que objetivam a manutenção e a longevidade da união.

Desde que as pessoas são diferentes, umas das outras, é inevitável que haja conflitos, vez por outra, entre interesses, necessidades ou desejos. 
São catalizadores de tensões internas, já que surgem do confronto da legitimidade dos diferentes movimentos individuais. 
Não são os conflitos, per se, os causadores de problemas, mas as reações de cada parceiro perante eles.

Dessas tensões, se originam os temores de desaprovação e rejeição, que desencadeiam, por sua vez, os processos defensivos e protetivos. 

No modelo de Amor Romântico, os conflitos devem ser evitados ou suprimidos mediante força de uma ação modificadora, onde, inevitavelmente, um parceiro cede perante a diferença advinda do outro.

As interações entre as pessoas determinam, rápida e dinamicamente, jogos de poder, e, na sociedade atual, ainda são bastante fortes a atribuições de poder a priori, do modelo patriarcal; homens e mulheres têm papéis diferentes a serem cumpridos, pré-estabelecidos e que suscitam expectativas, impõem condutas e fornecem um desenrolar, onde, ao final, a paz deverá ser restabelecida e o quinhão de cada representação social, restituído.

A restituição da segurança tem um alto preço: a sujeição. Estar protegido envolve estar fechado, duro, defensivo. 

Não há questão de liberdade individual e a leveza de estar-se aberto e disponível para aprendizagem – tais características supõem a vulnerabilidade da relação, uma qualidade indesejável e perigosa, que põe em risco a solidez almejada e distintamente apreciada, no Amor Romântico.


Burlando o Contrato Social da Monogamia ( texto em construção - por Sonia Menezes)



A união monogâmica vem apresentando, na prática, rupturas lícitas e ilícitas, formais e informais.

Parece ser impossível aprisionar completamente a força que impulsiona um sujeito a se interessar por outras pessoas, apartadas de sua relação conjugal monogâmica; se por um lado, as traições são consideradas algo extremamente indesejado, por outro, de alguma maneira, é sempre aguardada, e contra ela são tomadas, de maneira contundente, providências profiláticas e reparatórias.

As práticas de preservação do laço monogâmico percorrem entre vieses religiosos e sociais, a até pouco tempo o adultério era considerado contravenção, exposto a punições legais e difamação, entretanto, nessa mesma sociedade brasileira, ao menos nos grandes centros urbanos, há um movimento na contra-corrente dessa preservação, tornando aceitáveis modalidades de relacionamento em que a rigidez se afrouxa, com a permissão e  acolhimento sociais.

Na década de 80, surge a Amizade Colorida, que propõe a legitimidade do sexo entre amigos; nos anos 90 surge a convenção do Ficar, em que pessoas não comprometidas pelos acordos do namoro, noivado ou casamento, adquirem a liberdade social de terem relações casuais com uma quantidade indefinida de parceiros, muitas vezes, recorrentemente escolhendo estar com os mesmos, sem que tenham que se ajustar a padrões pré-concebidos de fidelidade. 

Essas duas modalidades de relacionamentos são mais permissivas à liberdade de expressão afetiva, sendo a primeira mais voltada para a expressão sexual, e a segunda para a expressão emocional. 
Ambas se firmam no espaço criado, socialmente, para a desestigmatização. 

Ter um(a) amigo(a) colorido(a) ou ficar com alguém já não espanta ou coloca o sujeito sob o jugo da moralidade e retidão.


O exercício dessas práticas, seja ativamente, pelos autores, ou passivamente, por parte da sociedade que assiste a esses fenômenos de fora, sem participar deles, constitui um novo território para relacionamentos amorosos, paralelo, mas não menos legítimo, ao do consolidado amor burguês, o amor romântico, que propõe, segundo Lejarraga, uma conciliação que garantiria a máxima felicidade, sendo esta entre o casamento, o sexo, a reciprocidade e a indissolubilidade.

Prelúdio sobre Amor-Não-Monogâmico e Saúde Emocional (texto por Sonia Menezes)


Já tendo iniciado meus estudos mais focados nesse tema há mais de um ano, decido começar a compilação de uma coletânea de impressões, enquanto, paralelamente, evoluo um trabalho acadêmico, que intento oferecer à comunidade científica, visando agregar conhecimento válido, benéfico e relevante à sociedade.


Minha intenção é demostrar a possibilidade de legitimação do Amor- Não- Monogâmigo como uma prática de saúde emocional pessoal e senso crítico refinado. 

O monogamismo compulsório encontra-se em obsolescência, ainda que extremamente  consolidado na subjetividade da sociedade atual. 

A união monogâmica vem apresentando , na prática, rupturas lícitas e ilícitas. As práticas de sua preservação percorrem vieses religiosos e  sociais, entretanto há um movimento na contra-corrente dessa preservação, tornando aceitáveis novas modalidades de relacionamento em que a rigidez se afrouxa, com a permissão e acolhimentos sociais. 

A dinâmica do padrão capitalista  que dita  o amor romântico propõe que a fidelidade seja fruto  da conciliação entre casamento, sexo, reciprocidade e indissolubilidade. Tal modelo supõe que  conflitos devam ser evitados ou suprimidos mediante força de ações modificadoras, onde um parceiro, inevitavelmente, cederá perante a diferença advinda do outro.
 Ao final, a segurança deve ser restituída e para que isso aconteça, a sujeição de uma ou ambas as partes será inevitável.

Parceiros envolvidos em relações monogâmicas vivenciam processos protetivos, muitas vezes opressores, sem que se pareçam errados, já que objetivam  a manutenção da relação. 
A naturalização dessa prática produz sujeitos indisponíveis para a aprendizagem e usufruto da sua liberdade constitucional, já que estas experiências contam com a atitude de não estar fechado, duro e defensivo, e a decorrente vulnerabilidade põe em risco a solidez almejada pelo amor romântico.

Trabalhos iniciados!