O Veganismo propaga a ética
e o máximo respeito aos animais, humanos e não humanos. A exploração, de todo
tipo, é abominada e combatida com ativismos de diversas naturezas, individual e
coletivamente.
O respeito é a palavra-chave
desse modo de vida, entendendo que o especismo tem a mesma genealogia do que
todas as demais formas de opressão, a exemplo, o machismo, o racismo, o
sexismo, o idadismo, o elitismo e
outras.
São todas essas, manifestações de uma cultura de desvalorização da
diferença, no sentido higienista, onde privilegiam-se as qualidades que bem
servem à mentalidade capitalística, já hoje universalizada, em detrimento
daquelas que não são alinhadas com o construído padrão burguês de alta
produtividade, consumo e funcionamento da máquina sócio-econômica fundada
naqueles moldes.
O animal não-humano não é
visto como inferior, mas diferente, e possui direito à sua vida, com seu
propósito em si.
Nenhum tipo de utilização exploratória é bem visto, nem
tampouco entende-se que algum animal pertença a algum humano, concebendo-se a
tutela responsável, a mais aceitável modalidade de relacionamento, depois do
relacionamento livre, onde animais e humanos conviveriam sem qualquer vínculo, como na vida selvagem.
Posse não é um conceito participante de
um sujeito vegano.
Depreende-se, pois, que
relacionamentos entre os seres humanos, sob essa luz, devam ser respeitosos
quanto à liberdade do outro: “ninguém é de ninguém” faz valer, aqui, seu
sentido mais profundo.
Não é verdade afirmar que
toas as pessoas que adotam o veganismo participam da visão libertária, quando
se trata de seus relacionamentos, e isso está calcado na sua subjetividade
capitalística, algo que exige forte senso crítico para ser desconstruído ou
reelaborado.
Muitos veganos têm seu foco no animal não-humano, e para eles, é
suficiente, o não consumo de produtos de origem animal, acompanhado de práticas
como não tirar a vida de nenhum tipo de ser vivente, o resgate de animais em
situação de risco e propagar a senciência animal.
Pode-se observar, outrossim,
que há, entre os veganos, uma aceitação muito mais fluida e recorrente, das
formas consideradas, pelo padrão cultural atual, alternativas, de
relacionamentos afetivos. Juntamente com a luta contra o especismo, vem
relativização das relações machistas, e a fragilização dos modelos monogâmicos
como sendo os únicos saudáveis, livres de perversão; muito pelo contrário, há
um olhar desconfiado para a considerada saúde do modelo, e uma propensão ao
rompimento dos grilhões sociais, que geram tantos conflitos quanto aos limites
aceitáveis de liberdade do outro, nas relações.
O Amor Libertário, dessa
maneira, seria entendido como uma abertura de um espaço para a expressão desse
afeto de alta qualidade, descolado da lógica controversa da normalização, que
prevê a monogamia como única forma correta de vivenciar relacionamentos.
É uma
proposta de revolução interna, de libertação de denominações como imoralidade,
infidelidade, perversidade, ou promiscuidade, a, ao mesmo tempo, em favor da
expansão dos sentimentos de amor, independentemente do engajamento em
relacionamentos de quaisquer naturezas.
O amar é uma expansão do
sujeito amante.
Os sentimentos de amor podem estar dirigidos a muitos objetos,
e não há, a não ser pelos interditos sociais, limites naturais para determinar
o número saudável ou correto de tais objetos.