Todos precisam ser a si
mesmos e se sentir amados.
Teme-se, desde a constituição do Eu, repetir a perda
que é experimentada ao se perceber que a mãe não é sua continuação, e
entende-se que há outros, além e a despeito de si, que merecerão o amor a
atenção dela.
Quando acontece o
apaixonamento, geralmente acontecem pequenos ajustes para que haja uma
modulação favorável, na nova relação.
Não se deve desprezar, entretanto, que
haja uma ameaça subjacente, implícita: se o outro não gostar do que é feito,
não haverá amor em retorno.
A ideia de adaptação, de certa forma, arrasta uma
outra, a da anulação de si, entretanto, não é possível que alguém se sinta
profundamente amado, a menos que seja aceito e respeitado, pelo que é.
Acontece, assim, um fenômeno de dupla possibilidade de perda: perde-se ao se
conformar, perde-se ao se rebelar.
A única saída desse fenômeno
perde-perde é a ação voluntariosa, que se resume em fazer algo por que isso
fará diferença para si, porque há um importar-se verdadeiro para com o outro, e
um desejo que impulsiona o sujeito a tal ação. Havendo medo, culpa ou
obrigação, não se poderá furtar da experiência da anulação.
A ideia é que quando cessam
as acusações, a preocupação com o outro pode começar. O afrouxamento das
atitude auto-protetivas contra a perda do amor, como a submissão, o controle
sobre o outro ou a indiferença permitiriam, então, e através do exercício da
liberdade, que acontecesse a cumplicidade e a intimidade.
A valorização da
compreensão, fortalecida pelo respeito à liberdade do outro de ser quem ele é
inicia um processo que prescinde da urgência em encontrar uma solução em
resolver conflitos, e este passa a ser o campo mais enriquecedor da experiência
amorosa.
Tal processo pode deixar os casais mais íntimos e satisfeitos, e
possíveis soluções podem deixar de ser a prioridade emergente, mas passam a
ocupar um campo de possibilidades, num segundo plano, onde se pode raciocinar
sem o medo da compreensão e da perda do amor.
Segundo Jordan e Margareth
Paul, responder “Não” cria um espaço para o florescimento dos sentimentos de
amor, acompanhados de apoio, aceitação mútua, diversão, sensualidade e sexo
passional. Isso se daria pelo engajamento mútuo num processo que leva às
liberdade e integridade individuais, e aumentaria a intimidade. Chamam de Relacionamento em Evolução, e os
parceiros, nessa afinação, encorajariam o outro a se expressar e a se
compreender profundamente. Segundo eles, esse tipo de relacionamento é raro e
difícil de construir, porque os parceiros devem aceitar estar vulneráveis e
aceitar riscos emocionais. Em seu livro “Terapia do Amor – Não Renuncie a si
mesmo”, parafraseiam Carl Rogers, para ilustrar a atitude pessoal do sujeito,
em tais circunstâncias:
“Talvez
eu possa descobrir e aproximar-me mais daquilo que , realmente, sou lá no fundo
– sentindo-me, às vezes, bravo ou aterrorizado, às vezes amável e atencioso,
ocasionalmente belo e forte e selvagem e terrível – sem esconder esses
sentimentos de mim mesmo. Talvez eu
possa vir a me apreciar como a pessoa ricamente variada que sou. Talvez eu
possa, abertamente, ser mais dessa pessoa... Então, eu posso me deixar ser, com
meu parceiro, toda essa complexidade de sentimentos e significados e valores –
ser livre o suficiente para dar amor, a raiva e a ternura que existem em mim.
Possivelmente, então, eu poderei ser um membro real de uma parceria, porque
estou no caminho de me tornar uma pessoa real. E tenho esperanças de que posso
encorajar meu parceiro a seguir seu próprio caminho, para uma personalidade
única, a qual eu amaria compartilhar”.
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