quinta-feira, 28 de abril de 2016

Sentir-se Amado (por Sonia Menezes)



Todos precisam ser a si mesmos e se sentir amados. 

Teme-se, desde a constituição do Eu, repetir a perda que é experimentada ao se perceber que a mãe não é sua continuação, e entende-se que há outros, além e a despeito de si, que merecerão o amor a atenção dela.

Quando acontece o apaixonamento, geralmente acontecem pequenos ajustes para que haja uma modulação favorável, na nova relação. 

Não se deve desprezar, entretanto, que haja uma ameaça subjacente, implícita: se o outro não gostar do que é feito, não haverá amor em retorno. 
A ideia de adaptação, de certa forma, arrasta uma outra, a da anulação de si, entretanto, não é possível que alguém se sinta profundamente amado, a menos que seja aceito e respeitado, pelo que é. 

Acontece, assim, um fenômeno de dupla possibilidade de perda: perde-se ao se conformar, perde-se ao se rebelar.
A única saída desse fenômeno perde-perde é a ação voluntariosa, que se resume em fazer algo por que isso fará diferença para si, porque há um importar-se verdadeiro para com o outro, e um desejo que impulsiona o sujeito a tal ação. Havendo medo, culpa ou obrigação, não se poderá furtar da experiência da anulação.

A ideia é que quando cessam as acusações, a preocupação com o outro pode começar. O afrouxamento das atitude auto-protetivas contra a perda do amor, como a submissão, o controle sobre o outro ou a indiferença permitiriam, então, e através do exercício da liberdade, que acontecesse a cumplicidade e a intimidade. 

A valorização da compreensão, fortalecida pelo respeito à liberdade do outro de ser quem ele é inicia um processo que prescinde da urgência em encontrar uma solução em resolver conflitos, e este passa a ser o campo mais enriquecedor da experiência amorosa. 

Tal processo pode deixar os casais mais íntimos e satisfeitos, e possíveis soluções podem deixar de ser a prioridade emergente, mas passam a ocupar um campo de possibilidades, num segundo plano, onde se pode raciocinar sem o medo da compreensão e da perda do amor.
Segundo Jordan e Margareth Paul, responder “Não” cria um espaço para o florescimento dos sentimentos de amor, acompanhados de apoio, aceitação mútua, diversão, sensualidade e sexo passional. Isso se daria pelo engajamento mútuo num processo que leva às liberdade e integridade individuais, e aumentaria a intimidade. Chamam de Relacionamento em Evolução, e os parceiros, nessa afinação, encorajariam o outro a se expressar e a se compreender profundamente. Segundo eles, esse tipo de relacionamento é raro e difícil de construir, porque os parceiros devem aceitar estar vulneráveis e aceitar riscos emocionais. Em seu livro “Terapia do Amor – Não Renuncie a si mesmo”, parafraseiam Carl Rogers, para ilustrar a atitude pessoal do sujeito, em tais circunstâncias:

“Talvez eu possa descobrir e aproximar-me mais daquilo que , realmente, sou lá no fundo – sentindo-me, às vezes, bravo ou aterrorizado, às vezes amável e atencioso, ocasionalmente belo e forte e selvagem e terrível – sem esconder esses sentimentos de mim mesmo. Talvez  eu possa vir a me apreciar como a pessoa ricamente variada que sou. Talvez eu possa, abertamente, ser mais dessa pessoa... Então, eu posso me deixar ser, com meu parceiro, toda essa complexidade de sentimentos e significados e valores – ser livre o suficiente para dar amor, a raiva e a ternura que existem em mim. Possivelmente, então, eu poderei ser um membro real de uma parceria, porque estou no caminho de me tornar uma pessoa real. E tenho esperanças de que posso encorajar meu parceiro a seguir seu próprio caminho, para uma personalidade única, a qual eu amaria compartilhar”.


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