quinta-feira, 28 de abril de 2016

Veganismo, Anarquia e Amor Libertário (por Sonia Menezes)



O Veganismo propaga a ética e o máximo respeito aos animais, humanos e não humanos. A exploração, de todo tipo, é abominada e combatida com ativismos de diversas naturezas, individual e coletivamente.

O respeito é a palavra-chave desse modo de vida, entendendo que o especismo tem a mesma genealogia do que todas as demais formas de opressão, a exemplo, o machismo, o racismo, o sexismo, o idadismo, o elitismo  e outras. 

São todas essas, manifestações de uma cultura de desvalorização da diferença, no sentido higienista, onde privilegiam-se as qualidades que bem servem à mentalidade capitalística, já hoje universalizada, em detrimento daquelas que não são alinhadas com o construído padrão burguês de alta produtividade, consumo e funcionamento da máquina sócio-econômica fundada naqueles moldes.

O animal não-humano não é visto como inferior, mas diferente, e possui direito à sua vida, com seu propósito em si. 

Nenhum tipo de utilização exploratória é bem visto, nem tampouco entende-se que algum animal pertença a algum humano, concebendo-se a tutela responsável, a mais aceitável modalidade de relacionamento, depois do relacionamento livre, onde animais e humanos conviveriam  sem qualquer vínculo, como na vida selvagem. 
Posse não é um conceito  participante de um sujeito vegano.

Depreende-se, pois, que relacionamentos entre os seres humanos, sob essa luz, devam ser respeitosos quanto à liberdade do outro: “ninguém é de ninguém” faz valer, aqui, seu sentido mais profundo.

Não é verdade afirmar que toas as pessoas que adotam o veganismo participam da visão libertária, quando se trata de seus relacionamentos, e isso está calcado na sua subjetividade capitalística, algo que exige forte senso crítico para ser desconstruído ou reelaborado.

Muitos veganos têm seu foco no animal não-humano, e para eles, é suficiente, o não consumo de produtos de origem animal, acompanhado de práticas como não tirar a vida de nenhum tipo de ser vivente, o resgate de animais em situação de risco e propagar a senciência animal.

Pode-se observar, outrossim, que há, entre os veganos, uma aceitação muito mais fluida e recorrente, das formas consideradas, pelo padrão cultural atual, alternativas, de relacionamentos afetivos. Juntamente com a luta contra o especismo, vem relativização das relações machistas, e a fragilização dos modelos monogâmicos como sendo os únicos saudáveis, livres de perversão; muito pelo contrário, há um olhar desconfiado para a considerada saúde do modelo, e uma propensão ao rompimento dos grilhões sociais, que geram tantos conflitos quanto aos limites aceitáveis de liberdade do outro, nas relações.

O Amor Libertário, dessa maneira, seria entendido como uma abertura de um espaço para a expressão desse afeto de alta qualidade, descolado da lógica controversa da normalização, que prevê a monogamia como única forma correta de vivenciar relacionamentos. 

É uma proposta de revolução interna, de libertação de denominações como imoralidade, infidelidade, perversidade, ou promiscuidade, a, ao mesmo tempo, em favor da expansão dos sentimentos de amor, independentemente do engajamento em relacionamentos de quaisquer naturezas.


O amar é uma expansão do sujeito amante. 
Os sentimentos de amor podem estar dirigidos a muitos objetos, e não há, a não ser pelos interditos sociais, limites naturais para determinar o número saudável ou correto de tais objetos.

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